Manuel António Ribeiro
Manuel António Ribeiro

Entrevista ao Dr. Manuel António Ribeiro, professor de Português e Área de Projecto na ESAG, além deser também um impulsionador de actividades ligadas ao teatro na escola. 

 

re(Viver) o Teatro: Qual considera ser a importância do teatro para o sucesso escolar?

Dr. Manuel António Ribeiro: Qualquer actividade performativa pode ter repercussões positivas no desenvolvimento das capacidades e das competências dos alunos. A actuação teatral leva a desabrochar energias e dotes pessoais que muitos alunos têm dentro de si, sem que eles próprios os conheçam, por nunca terem tido a possibilidade de os exercitar. São riquezas escondidas nas jazidas «subterrâneas» de cada um que, quando são mobilizadas, dão lugar a resultados surpreendentes. A autoconfiança desabrocha no aluno que tem vergonha de falar em público. Exercita-se capacidade da memória, que parecia adormecida ou até atrofiada em muitos alunos. Afina-se a sensibilidade estética em alunos resistentes à vibração interior, diante da beleza literária de um texto. Descobrem-se as enormes vantagens de interagir com os colegas, na construção de um produto comum. Os conhecimentos e competências adquiridas nas diversas disciplinas são mobilizados de forma criativa e atractiva, ajudando a conceber a Escola como um espaço de enriquecimento pessoal e de bem-estar relacional. Através da actividade teatral, os alunos fazem a descoberta surpreendente de que é possível transformar as aprendizagens numa actividade agradável e apetecível. Sou testemunha do enorme «salto» que muitos deles deram no que toca à capacidade de comunicação em público e à maior confiança em si próprios, graças à actividade teatral que experimentaram.Como facilmente se percebe, todos estes factores têm uma evidente importância para o sucesso escolar.

 


 

 

re(Viver): Na condição de professor responsável pela encenação das peças apresentadas nos Dias de Encontro, o que acha de no próximo ano oferecer à comunidade escolar a oportunidade de participar num grupo de Teatro como actividade extra-curricular?

M.A.R.: Pelas razões referidas na resposta à pergunta anterior, a oferta educativa do teatro como actividade complementar do currículo escolar seria maximamente oportuna e vantajosa. Pela experiência do que aconteceu no presente ano lectivo, tenho a certeza de que não faltariam candidatos, capazes de transformar este projecto numa realidade cheia de potencialidades. As peças representadas nos «Dias de Encontro» foram apenas um ponto de chegada de uma viagem que teve o seu início em Outubro. Nesta viagem, mais do que o destino final, contou o percurso durante o qual se foram operando nos alunos transformações enriquecedoras. Não podemos esquecer que o «produto» do trabalho da oficina de teatro, realizado com fidelidade todas as sextas-feiras, traduziu-se numa abertura da Escola ao meio, através das actuações na Biblioteca Municipal, por altura do Natal, que concitou grande entusiasmo no público, constituído por alunos e educadores das escolas do 1º Ciclo. Também não devemos deixar de referir que as representações realizadas no Hospital Pedro Hispano, na Escola Florbela Espanca e no Lar de Santana foram a prova concludente de que o teatro constituiu um produtivo meio de intervenção no seio da comunidade de Matosinhos e uma forma de dar corpo ao objectivo, traçado pelo conjunto dos alunos de Área de Projecto do 12º A: Construir uma Escola capaz de alargar a percepção da realidade de Matosinhos, de modo a participar aí com iniciativas transformadoras.

 


 

 

re(Viver): Caso esta proposta venha a ser aceite pela direcção, qual é a importância da criação de um espaço com condições adequadas à encenação destas peças?

M.A.R.: É claro que a criação de um espaço não apenas adequado à encenação de peças teatrais mas também vocacionado para facilitar o trabalho oficinal de ensaio das mais variadas actividades performativas possibilitaria alargar enormemente o âmbito daquilo que foi feito até ao presente. Nesse espaço, liberto dos constrangimentos próprios das actividades em contexto das habituais salas de aula, os alunos poderiam experimentar as virtualidades do movimento e da expressão corporal, poderiam descobrir como é motivador fazer a interpretação criativa de uma história ou de um conto, poderiam verificar que é preciso terem disciplina consentida para serem verdadeiramente livres, poderiam descobrir como a dança e o teatro, através de jogos de criatividade e imaginação, os torna mais libertos de inibições castradoras e mais capazes de descobrir o lado bonito das coisas. Nesse mesmo espaço, os pais poderiam ser convidados a assistir ao resultado do trabalho dos alunos, passando a ver a Escola com outros olhos e a empenhar-se mais activamente no trabalho educativo. Poderia continuar a lista dessas vantagens, mas o que fica dito bastará para perceber que só saltamos para o futuro a partir do que sonhamos agora.