António Augusto Silva
António Augusto Silva

Entrevista a António Augusto Silva, presidente da Direcção do Flor de Infesta.

 

G.D.M. Flor de Infesta  António Augusto Silva

 

re(Viver) o Teatro: Bom dia mais uma vez. Antes de mais, obrigado pela visita que nos proporcionou às instalações deste Teatro. Para começar, pedíamos que nos desse a conhecer um pouco mais sobre o Flor de Infesta e a sua génese.

António Augusto Silva: Isto é uma associação que tem 93 anos. É uma colectividade que vive da “carolice” das pessoas desde o princípio. Foi um alfaiate que decidiu com uns amigos cantar as Janeiras . Reuniam-se, começaram a fazer teatro e fizeram uma grande peça que se chamava “Caldo e Broa”. Foi uma peça que foi para o Coliseu e teve um êxito enorme. A partir daí isto nunca mais parou. Hoje, com mentalidades e técnicas diferentes, não conseguimos actuar permanentemente porque agora é difícil uma colectividade destas permanecer activa todo o ano.

 

 


 

 

re(Viver): E como é que o seu caminho se cruza com o do Flor de Infesta?

A.A.S.: Eu nasci aqui, vivi ao lado da associação. Gostava de teatro e tive um grupo aqui no Flor em 1961 que ainda durou muitos anos mas depois fui para a guerra e quando vim não tive vontade de continuar. Depois fui para o estrangeiro. Ficava lá 3,4 meses e voltava, depois ia meio ano e voltava mais uns tempos…andei assim 38 anos e foi impossível manter estas actividades. Eles continuaram e fizeram maravilhas mas eu fiquei muito ligado aqui ao Flor.

A pessoa que estava aqui na direcção ficou durante 20 e tal anos mas quando cheguei e me aposentei ele saiu e eu fiquei com isto. Como estou aposentado passo quase o meu tempo todo aqui.

 

 


 

 

re(Viver): Como é que é constituído o vosso grupo de actores? Há um grupo fixo ou há sempre novas caras a entrar nas peças que encenam?

A.A.S.: Nós temos duas equipas de teatro com duas professoras profissionais. Estamos a pensar fazer uma terceira equipa porque cada vez há mais crianças. O nosso teatro infantil tem 45 crianças permanentes. Temos pessoas desde os 5 até aos 86 anos. Esse senhor com essa idade é dedicadíssimo aqui ao Flor, é muito dinâmico, tem uma força danada de viver, gosta de estar aqui e dá-se muito bem com os jovens, o que é excelente.

 

 


 

  

re(Viver): Como já observamos nestas instalações, vocês realizam muitos mais eventos para além do Teatro, de forma a atrair mais pessoas. Qual é então o leque de actividades que o Flor oferece à população?

A.A.S.: Ora, temos também aqui, como já puderam visitar, a universidade sénior com várias disciplinas como informática, alemão, história de arte, etc... temos as danças de salão, a dança do ventre, um sarau de poesia na terceira sexta-feira de cada mês sempre com música ao vivo e poetas a recitar os seus poemas, fazemos jantares dançantes e mais ou menos uma vez por mês fazemos uma noite de fados para cativar as pessoas todas a estarem connosco.

 

 


 

 

re(Viver): E as peças são representadas apenas aqui ou vão até outras freguesias vizinhas ou mesmo mais longe?

A.A.S.: Bem, todos os anos temos um festival de teatro que fazemos aqui, é o “Infestarte”. Já vem de há muitos anos. E o que é que fazemos? Fazemos não só as nossas peças do grupo infantil e do adulto como também actuam grupos convidados. Ora, como isto é tudo gratuito, fazemos um inter-câmbio: eles vêm cá e nós temos a obrigação de ir lá também. Em todos os fins-de-semana há festa aqui. Temos também a nossa orquestra de profissionais com 46 elementos dirigida por um maestro espectacular que esteve na televisão há uns anos atrás.

 

 


 

 

re(Viver): E que peças que já realizaram foram marcantes?

A.A.S.: Foi aquela, como já disse, o “Caldo e Broa”. Já foi há muitos anos mas há ainda há pessoas vivas que se lembram desse sucesso. Também os autos de Gil Vicente, representámos quase todos. Outra peça marcante mais recente foi a peça do “Riper”, um eléctrico que ligava Porto aqui a S. Mamede. Fizemos também uma peça muito bonita chamada “Igreja Assombrada”, uma grande comédia. Agora estamos com outra, também uma comédia: é um homem que ganha o totoloto e finge-se de morto para não pagar as dívidas. Ainda não temos o guião completo mas já vai bem adiantada. Em meados de Abril já devemos ter a peça em cena e já temos convites para pelo menos 12 espectáculos.

 

 


 

 

re(Viver): Pelo que temos percebido, algumas associações são apadrinhadas por pessoas famosas, é o caso do Flor?

A.A.S.: Não, não temos ninguém. Lutamos por nós mesmos. Se estivéssemos à espera de padrinhos bem que ficávamos atrapalhados. Os nossos padrinhos são os presidentes das câmaras e das juntas que nos ajudam quando estamos aflitos. Eles estão sempre dispostos a ajudar. Veêm que o trabalho está a ser feito e por isso ajudam-nos. 

 

 


 



re(Viver): E como é que é feita a selecção dos actores e de todos os detalhes que envolvem uma peça?

A.A.S.: Isso é o encenador, ele programa tudo. Reunimos com os actores, ele diz o que quer deles  e o que quer nos cenários. É ele que está à frente da peça. Foi ele que a fez, que a desenhou, que a interpretou e mediante isso ele pensa na roupa para este e para aquele assim como nos adereços.

 

 


 

 

re(Viver): E os adereços são feitos aqui?

A.A.S.: Se não os temos, fazemos. Logicamente optamos por fazer coisas baratas. Embora também haja um subsídio da junta para o festival de teatro.

 

 


 

 

re(Viver): Mudando um pouco de assunto, qual é para si a importância do teatro nas escolas?

A.A.S.: O teatro transmite às pessoas uma sensibilidade de estar na vida muito marcante. O que nós vemos aqui nos actores, quando estão em cena, é que eles têm uma personalidade muito vincada e transmitem muito depois cá para fora, o que é excelente porque há um trabalho de educação, um trabalho de princípios, uma responsabilidade que tem de ser assumida pelo actor. Ora, isso nas escolas é importantíssimo. Não é menosprezar as outras pessoas mas acho que o teatro é mais importante até que o desporto, embora o desporto também tenha uma parte importante na cultura. No entanto, o trabalho de decorar as peças e incorporar a personagem é excelente e isso transmite uma grande personalidade. E mesmo aqui, ao falar com um actor qualquer, até com um dos mais pequenos, vemos que têm uma personalidade muito vincada. Temos miúdos que já estão connosco há 6 anos e eles transmitem uma grande energia quando chegam ao palco, eles sabem o trabalho que têm a fazer e sabem o que têm de transmitir às pessoas: mostrar que aquele papel foi trabalhado e preparado. Eu acho que o Teatro é uma mais valia para os alunos.

 

 


 

 

re(Viver): Para concluir temos a agradecer a sua disponibilidade para nos mostrar as instalações do Flor e por nos conceder esta entrevista que irá ser muito importante para o nosso projecto.

A.A.S.: Eu gosto muito que a juventude esteja presente porque isso é o principal. Qualquer coisa que precisem avisem e força, não desistam. Para as escolas estamos sempre prontos, é fundamental cativar os jovens. É preciso é ter força. Só com força e coragem é que se consegue fazer alguma coisa.